No meu, cada vez mais, longínquo 12.º ano dei na disciplina de Filosofia o significado da palavra Saudade...
Foi bonito devo dizer... foi até, e se me permitem uma certa emotividade de momento, uma altura "primaveril" da minha vida.
Recordo-me como se fosse hoje... Tinha um livro cor púrpura, pequenino... dum Joaquim qualquer coisa, que escrevia muito bonito sobre a Saudade!! E um caderno... um caderno de linhas todo esfarrapado que dizia na capa, escrito a corrector.. "dá para todas as disciplinas".
Quando começamos a aprender o Significado de "Saudade" o teor científico e impessoal da coisa estava bem patente nas aulas, contudo, e à medida que toda aquela teoria nos ia maçando (Nota: quando dia "nos ia" - plural - falo de mim e dos restantes gandulos que eram da minha turma, e que ficavam juntinho à mesa da professora - eramos uns gandulos betos) nós decidimos dar um ar mais, mais... bem... mais pessoal e real às nossas aulas.
Neste momento... tu que já vais aqui na leitura questionas-te, sobre como é que podemos dar um cunho pessoal ao debate sobre saudade... certo???
Simples carissimo/a...
Passo a explicar.
À medida que o debate se intensificava, nós, pequenos adolescentos mas finalmente os maiores da escola (afinal estavamos no 12.º) recordavamos o nosso percurso educacional até então.
Recordamos então o dia em que eu... armado em grande guarda-redes... assumi heroicamente as redes da baliza da minha turma no torneio da escola... Era aliás a única maneira de jogar à bola!!! Recordei, como aos cinco minutos de jogo, depois duma bela defesa de pés... tinha um rasgão nas calças que ia da zona do escroto até ao joelho.
Eu desde sempre disse que só queria o bem estar dos meus amigos, mas ouvir os risos desde essa altura até ao final do jogo e dias e dias afim... até hoje inclusivé...
"As saudades em como tu eras parolo nessa altura!" - diziam eles. "Ohhh mas também verdade seja dita.... não mudaste nada!" - completavam.
Relembramos a Saudade também de quando o rally de Portugal vinha para estas paragens, e nós na plenitude dos nossos 15 anos, íamos em autenticas romarias para o cimo da serra, armados com arcas frigorificas com cerveja, tinto e branco, petiscadas, sandes de manteiga, etc etc, para ver aquele belo espectáculo... à ida íamos todos a pé.... à vinda, uns vinham a pé, outros de carro, outros aos rebolões serra abaixo e outros ainda, (sacanas priveligiados) vinham de INEM... Saudade diziamos nós.
A dada altura daquele debate sobre a Saudade... chegaram as memórias sobre aquele 6.º ano em que, tal e qual um belo gang da Amadora, "obrigamos" de forma amistosa a nossa professora de Francês a dar-nos dinheiro para duas bolas de futebol e para ir jogar matraquilhos no café ao lado da escola... em que retiravamos as faltas do livro do ponto com giz, em que do 2.º andar da escola desciamos as mochilas com os fios dos estores até ao chão, pedíamos para ir ao WC e... xau xau aula chata... quando brincavamos ao poste, em que metíamos açucar dentro das cuecas dos cromos (aqui reconheço que aquilo era bem aborrecido pá) ou até... quando a frase "atrás do pavilhão" era sinónimo de ninho do amor, de bordel e de "primeira vez".... saudade...
saudade daquelas aulas de filosofia...
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