quarta-feira, novembro 07, 2007

Brincadeiras de Criança

Na minha mocidade, as crianças dividiam-se em três grupos: As raparigas, os moços e... os que eram como eu!!
As raparigas brincavam com bonecas, os moços faziam estradas de terra e jogavam à bola e os que eram como eu... bem... eram obrigados a usar ceroulas e tinham vergonha de brincar com os grupos anteriores. Ficavamos em casa a ver o "Barco do Amor" !!

No que toca a brincadeiras as raparigas eram sempre muito dificeis de agradar. Recordo-me na experiência de vida dos meus 8 anos, que as miudas, cansadas de brincar às bonecas, começaram a jogar à bola com os moços... aquilo corria bem até alguém lhes ter explicado que dar apalpões no rabo, e levantar-lhes as saias em gesto de festejo nºao fazia parte do jogo.

E era a jogar à bola que eu tinha as maiores e mais acesas discussões filosóficas da minha vida. Por exemplo, aquela vez em que tentei intensamente provar verbalmente que eu era um grande jogador de futebol... tinha era pouca mobilidade e não queria mostrar a minha habilidade porque não queria que ninguém visse.
Por norma para eu jogar com os meus amiguinhos tinha apenas duas soluções: Ou era realmente bom (noup... não era) ou... era o dono da bola (tcharammmmm... resposta certa).
Mas as crinças com 8 anos são muito exigentes... nunca era qualquer coisa que agradava aos meus amiguinhos. Uma bola de plástico dava direito a uma semana de respeito entre o meu gang, mas findo esse tempo (convenhamos que era o tempo útil de vida da bola) eu voltava a ser o "Zé Ceroulas". Uma bola de napa já dava direito a semana e meia.. até ela ganhar uma mama e depois estoirar como estoira uma castanha.
Foi então que eu tive uma grande ideia... adquirir uma bola de "capom"... para quem não sabe o que é uma bola de "capom" eu só posso dizer que: era o meu passaporte para a felicidade. Convém realçar que uma bola de "capom" naquela altura era um investimento esforçado, só ao alcance dos mais abastados ou dos mais desesperados (mas não vamos falar muito mais de mim).
E assim foi... arranjei uma bola de "capom".. ali...dura... rija... mesmo igual à que os grandes utilizavam nos jogos ao domingo aqui no pelado da aldeia.

Vivi dias felizes durante algumas semanas... eu e a minha bola de "capom". A parte de andar com os dedos dos pés inchados e negros... alguns mesmo em sangue... era uma questão secundária. Eu era o gaijo da bola de "capom".
Até que um dia... alguém ma fanou... roubou... como quem rouba um rebuçado a uma criança.
Neste caso... a bola de "capom".

E lá se foram os meus tempos áureos!!!

Ainda tentei filosoficamente (lá está) convencer os meus colegas que a bola de napa que havia comprado era na verdade uma de "capom"... mas infrutiferamente... apenas consegui com isso que me fizessem uma "barrela"(1).



"Eu disse que a bola era minha BuAAHAHAHAHAHAHHAHAHA"

(1) Barrela = do latim "juntar meia dúzia de gandulos, agachar as ceroulas à força ao cromo , tirar o pirilau cá pra fora e deitar açucar nas cuecas"